segunda-feira, 3 de março de 2008

Entre a caretice e a vanguarda

por Vitor Angelo
Nas últimas décadas, as bichas que sempre foram sinônimo de pessoas superantenadas com as novidades do mundo perderam o viço. A tão reverenciada atitude de vanguarda dos homossexuais enrugou. O mundo gay mostrou-se, com o tempo, bem maior e mais diversificado do que o grupo que exuberava sem medo de dizer o nome de suas preferências. Em busca de aceitação, os viados cada vez mais deixam de lado aquilo que seria "a sua cultura".
Ao falar de homossexuais estamos falando de comportamento sexual. E, no caso dos homens, temos a potencialização da atitude masculina nos gays. A relação entre homem e mulher, em geral (em uma visão clichê, mas necessária), é marcada por tensões e jogos em que o sexo é uma moeda forte. Até chegar à cama, o homem tem que passar por um caminho árduo de restaurantes, telefonemas, presentes. Já o sexo entre homossexuais é mais direto, sem firulas. Representa o imediatismo do desejo masculino.
Essa praticidade dos encontros gays fez a (má) fama dos homossexuais como promíscuos. Sem esquecer da devastação causada pela Aids, de uns tempos pra cá, assistimos aos próprios gays negando essa imagem. Viramos homens sem pênis, revelando algo conservador ao ver o sexo como um ato sem muito sentido e até mesmo sujo (se não for feito com amor, segundo essa "nova" mentalidade).
Vivemos um cinismo. Fingimos negar a nossa cultura, mascarados de celibatários e carolas que a tudo condenam, mas, no final da noite, acabamos por lotar parques, cinemas, saunas, clubes de orgias e bares sadomasoquistas. Estes, sim, lugares a que deveríamos nos orgulhar de pertencer. É onde resta um pouco da nossa atitude de vanguarda.
Vitor Angelo é jornalista e roteirista e escreve quinzenalmente nesta coluna.

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