quinta-feira, 4 de junho de 2009

A Crônica de um amigo

Os números
*Éber Sander
Respiro fundo. Volto os meus olhos novamente para o quadro negro. Negro?! De negro só o nome. Vejo número, números, números e quando penso que vai aparecer alguma palavra para aliviar a minha dor vejo mais números. Respiro ainda mais fundo!
Dq; quartil; média; variância... Meu Deus, se você realmente existe é chegada à hora de me salvar. Onde estará você? Onde você se esconde... Mande-me um anjo. Um anjo de Vinicius de Moraes ou quem sabe do Mário Quintana, não sei, não sei como anda o estoque de anjos poetas, mas me mande alguém, ao menos um...
A minha respiração é rápida e constante nesse momento. Daria o que tenho e o que não tenho para ler um poema. Um poema bem feito, saborear uma crônica fresquinha...
Não me interprete mal, por favor, não tenho nada contra os números, apenas não gosto deles. Prefiro as letras... Sim, as letras, como é bom ler, escrever e viajar...
Os números são seres secos, desnutridos, rancorosos, cabisbaixos. Não tem alma, não tem coração. Nunca me emocionei fazendo uma conta de adição, multiplicação ou coisa que o valha. Agora com a escrita... Com a escrita eu conheço mundo, pessoas, pensamentos...
Matemáticos, engenheiros e todos os profissionais que amam e usam os números meus parabéns, admiro vocês, de verdade. O mundo também precisa de vocês. Porque se fosse depender de mim, do meu prazer e satisfação no trato com os números estaríamos todos perdidos. Como estaríamos...
Continuo respirando fundo. Eles ainda continuam lá, me olhando, rindo da minha cara com um enorme ponto de interrogação. Como esses números são sacanas...
A minha conclusão é simples e verdadeira: quem inventou os números não tinha o que escrever.

*Éber Sander é escritor e palestrante
www.ebersander.wordpress.com

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