segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sonhos

*Éber Sander

Quando criança sonhava em ser jogador de futebol. Algo normal para um garoto nascido na periferia do país penta campeão do mundo na modalidade. De cada dez garotos, onze tem o mesmo sonho. Nunca recebi o apoio da minha família para ingressar no esporte, mas isso não foi empecilho para a tentativa. Estudava de manhã e treinava à tarde. Todos os dias.
Iniciei na posição de goleiro. Não tive sucesso. Lembro-me de um campeonato em que fui o goleiro mais vazado. Foi decepcionante e o time ficou em último lugar. O time todo era ruim, mas a culpa ficou nas cotas – e nas mãos – do goleiro. Azar o meu. Posição ingrata.
Decidi então mudar de posição, quem sabe não estaria na linha à chave para o meu sucesso como jogador. Escolhi a posição de meio de campo, jogava na direita. Deveria ser o garçom, servir os outros jogadores para que estes sim pudessem estufar a rede adversária. Continuava treinando pesado, com a firme intenção de um dia vestir a camisa do Palmeiras. Toda a noite visualizava vestindo o manto verde entrando no Morumbi para jogar uma decisão de Campeonato Brasileiro contra o Corinthians. Quando os treinos eram físicos inventava uma gripe, uma dor de cabeça que me impedia de ir treinar. Quando era treino com bola, lá estava eu curado da gripe e da dor. Funcionou por um tempo, mas logo o treinador desconfiou. Novo fracasso. Com o passar dos anos fui sendo cobrado pela família e pela sociedade. O sistema capitalista nos deixa sonhar até um ponto, depois é hora de voltar à realidade. Resolvi então que era hora de parar com o sonho do futebol.
Muitos anos se passaram sem que tivesse um sonho como aquele em ser jogador, algo que me motivasse a acordar pela manhã.
De uns anos pra cá voltei a sonhar. Escritor. Que audácia. Muitos livros, leitura diária, artigos, textos. Leitura diária, mais artigos, livros...
O que mais gosto neste novo sonho é que não preciso correr, não tenho como ser o mais vazado e não sou cobrado pelos passes errados ou pelas defesas não feitas. O que não quer dizer que é um sonho fácil de ser sonhado. O sonho ainda não foi totalmente realizado. Continuarei em firme na busca dele. Um dia qualquer invento uma estória, já tenho em mente o roteiro: estádio lotado, manto verde, levantando a taça...

*Éber Sander é escritor e palestrante
www.ebersander.wordpress.com

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